quinta-feira, 7 de abril de 2011

vandalismo


Após visita de dois dias às obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, comissão de seis senadores conclui:

Iniciadas com a queima de alojamentos do canteiro de Jirau, as paralisações nas duas principais obras do PAC foram provocadas por vandalismo, não por reindicações trabalhistas.

O blog conversou com Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), um dos senadores que inspecionaram as obras. Ele conta que, embora existissem queixas dos operários, não havia uma pauta de negociação trabalhista.

Conta que a destruição de Jirau foi feita por pessoas encapuzadas. Houve roubo de dinheiro em caixas eletrônicos.

Rollembeg preside a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado. Abaixo, um extrato da entrevista:



- Que impressões recolheu das visitas? No domingo, fomos a Santo Antônio. Na segunda, estivemos em Jirau. Na primeira obra, o clima é muito mais ameno. O trabalho já foi retomado. Na segunda, o problema foi maior. Imagino que comece a ser retomada, gradativamente, na próxima segunda-feira.

- Encontraram condições degradantes de trabalho? Visitamos os alojamentos em Santo Antônio. As instalações me pareceram decentes. São construções de maneira, quartos com quatro camas e ar-condicionado. Não ouvi reclamações quanto a isso.

- E sobre as outras reivindicações? Há, evidentemente, pontos de insatisfação. Mas não havia uma pauta de negociação trabalhista antes das paralisações. Sinceramente, não consigo imaginar que a insatisfação trabalhista tenha levado à destruição que houve em Jirau, origem dos problemas.

- Por quê? Além dos alojamentos, destruiu-se muita coisa, inclusive bens dos próprios trabalhadores, como televisores. E não é possível produzir aquele incêndio todo com uma tocha de fogo. Tinha que ter combustível estocado ali. Foi um incêndio simultâneo, algo planejado.

- Não foi provocado pelos trabalhadores? Fomos informados pela Secretaria de Segurança [de Rondônia] e pelos empreendedores de um dado que desconhecíamos.

- Que dado é esse? A depredação e os incêndios foram feitos por pessoas encapuzadas. E houve tentativa de arrombamento de todos os oito caixas eletrônicos instalados no canteiro. Conseguiram violar dois. Há um mistério quanto ao valor roubado. Ouvimos cifras diferentes –entre R$ 300 mil e R$ 1,5 milhão.

- Vem daí a sua convicção de que a origem não é trabalhista? Isso nos leva a crer que houve um movimento articulado, planejado. Não foi uma manifestação espontânea. É preciso agora investigar as causas. Não está claro se a queima de alojamentos foi feita apenas para desviar a atenção do roubo ou se teve outros propósitos.

- Quantos encapuzados agiram em Jirau? O que as autoridades nos disseram é que foram 30. Houve uma primeira investida numa terça-feira. A Polícia Militar entrou na área. Dois dias depois, na quinta, os encapuzados retornaram. Eles saíam da mata.

- Não houve adesão de trabalhadores? É difícil de afirmar. Mas encontrei trabalhadores tranquilos, gente pacata e fragilizada, querendo trabalhar. Não existia pauta de reivindicação em discussão. O que reforça a impressão de que houve ação coordenada, estranha às queixas trabalhistas. Minha convicção é que a paralisação em Jirau foi provocada mais por vandalismo do que por reivindicação trabalhista.

- Não há insatisfação dos trabalhadores? É claro que há também uma insatisfação. E essas paralisações terão o efeito positivo de atenuar esse quadro. Conversamos com vários trabalhadores, mais em Santo Antonio, já que Jirau estava esvaziada.

- Do que relcamam os operários? A grande queixa diz respeito ao que eles chamam de ‘baixada’, uma folga para visitar as famílias em seus Estados de origem. O problema é maior em Jirau. Ali, 80% dos trabalhadores têm origem em outros Estados. Em Santo Antonio ocorre o inverso: 80% são de Rondônia. Muitos moram na capital, Porto Velho, que fica a 5 km da usina.

- Por que se queixam da folga? Reclamam do prazo. São cinco dias a cada quatro meses. Viajam de ônibus, as distâncias são longas, as estradas ruins. Eles têm pouco tempo para ficar com as famílias. Pagam a passagem. Só são ressarcidos depois. Dos 22 mil trabalhadores de Jirau, 4 mil passaram pelo Sine de Porto Velho. São de outros Estados, mas foram contratados como se fossem de Rondônia. Esses reclamam que não têm direito à folga.

- Que outras reclamações ouviu? Há queixas quanto à forma de recrutamento, que envolve os conhecidos ‘gatos’. Oferecem condições que não correspondem ao que é encontrado nas obras. Há também trabalhadores contratados por empresas terceirizadas. Desempenham funções idênticas, mas recebem salários inferiores.

- Esses problemas já foram objeto de negociação, não? Exatamente. Houve um distensionamento. A periodicidade das folgas caiu de quatro para três meses. As empresas se comprometeram a pagar passagens de avião. Elevou-se o valor da cesta básica. Houve aumento salarial de 5%, uma antecipação do dissídio.

- Que providências a comissão de senadores vai adotar? Vamos nos reunir nos próximos dias para preparar um relatório. As sugestões vão depender do resultado desse encontro.

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