quarta-feira, 29 de abril de 2009

eletronorte investe no para

Enquanto outros setores sentem a crise, o elétrico não sabe o que é isso

A crise econômica que tem levado insegurança por todo o mundo parece que ainda não chegou até a Eletronorte. Essa é a conclusão que se chega ao conversar com o presidente da empresa, o paraense Jorge Nassar Palmeira. Em entrevista exclusiva ao repórter Thiago Vilarins, Palmeiras garantiu que a partir 2009, a empresa deverá injetar no Estado do Pará mais de R$ 11 bilhões em investimentos. E foi enfático em dizer que não se tratam de promessas, é dinheiro que já está comprometido. No programa de obras da empresa está a construção de termoelétricas, a conclusão das eclusas de Tucuruí e ampliação de subestações. Mas nenhum empreendimento é tão grandioso quanto a Usina Hidrelétrica de Belo Monte que, segundo Palmeira, está pronta para ser licitada. 'Não há mais nenhum entrave. E a meta do governo é que até o fim do primeiro semestre de 2009 seja feita a licitação para a concessão de Belo Monte', garante o presidente.

Quanto a Eletronorte deverá investir no Estado do Pará no próximo ano?
Serão vários investimentos no Estado. Temos a conclusão das eclusas de Tucuruí, que mesmo com previsão de término em março de 2010, só em 2009 serão investidos cerca de R$ 500 milhões. Há um investimento de 2,4 bilhões, em parceria com a Vale, no município de Barcarena. São duas térmicas de 600 MW cada. Cada uma sai por R$ 1,2 bilhão e a previsão é que sejam concluídas em três anos. Ainda vamos ampliar várias subestações no Estado ao custo de R$ 500 mil. Vamos ampliar as subestações de Marabá, Tucuruí, Vila do Conde, Guamá e Utinga. Ainda tem a quarta máquina de Curuá-Una, em Santarém, que a Eletronorte comprou. A instalação será no próximo ano e o custo é de R$ 30 milhões. Outro grande empreendimento é a construção da linha de transmissão de Oriximiná-Manaus que a partir de 2009 deverá injetar parte do R$ 1,2 bilhão no Pará. É um projeto de três anos. Fora o maior dos investimentos que é a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Se a Eletronorte vencer a licitação de concessão da Usina de Belo Monte, quanto será o montante investido no Estado?

Vamos entrar no leilão no ano que vem. Se vencermos, nós entraríamos com até 49% de participação. Mas aí estamos falando de um investimento superior a R$ 6 bilhões. Com as linhas de transmissão, esse investimento no Pará será de R$ 7 bilhões.

O senhor falou do investimento para a instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Isso quer dizer que não há mais nenhum entrave e já está tudo certo para ir a leilão?
Não há mais nenhum entrave. Todos os estudos ambientais sobre Belo Monte estão concluídos. Vamos entregar no próximo dia 20 esses estudos para a Aneel e logo em seguida esperamos receber as licenças para iniciar o processo. E a meta do governo é que até o fim do primeiro semestre de 2009 seja feita a licitação para a concessão de Belo Monte. Provavelmente, lá para junho ou julho a gente consegue colocar isso em leilão.

Com a concessão a partir do segundo semestre, qual a previsão de conclusão das obras?
Bem, aí teremos o leilão de energia, a assinatura do contrato de concessão e a previsão é que a primeira máquina venha a funcionar daqui a quatro a cinco anos. Mais ou menos em 2013. No total são 20 máquinas, as outras entrariam depois, de três em três meses, ou seja, a cada três meses uma nova máquina começa a operar.

Defensores de Belo Monte propagavam que em 2010 haveria um novo apagão se a hidrelétrica não fosse construída imediatamente. Com a conclusão da Usina somente a partir de 2013, ainda há algum risco de falta de energia?
O problema é que o País não pode parar. Se não saiu uma Usina, tem que se encontrar outras alternativas. No início desse ano, houve a licitação de concessão de Santo Antônio e Jirau lá no Rio Madeira, em Rondônia. Com Santo Antônio, nenhum problema, já temos a licença, quanto a Jirau deu um probleminha de uma liminar que cassou a licença de instalação. Mas essas usinas vão começar a serem construídas antes de Belo Monte. Mas paralelo a isso, enquanto não tem soluções hidroelétricas, o governo vem optando por fazer aquisições de energias oriundas de termoelétricas. No último leilão, por exemplo, foi basicamente de óleo combustível, óleo diesel, alguma coisa de gás natural, alguma coisa de carvão, mas todas as usinas termoelétricas.

Não é um grande contraste paralisar obras de hidrelétricas por questões ambientais e com essa atitude incentivar usinas termoelétricas que são mais nocivas ao meio ambiente?
Isso mesmo. É um grande contraste. Não vejo em nenhum lugar manifestações contra as térmicas. Ou pelo menos, não fica perceptível na mídia, alguém se posicionando contra, mas quando se fala em usina hidroelétrica, praticamente todo mundo se manifesta, todo mundo é contra. Realmente, é um grande contraste.

Por falar em críticos, uma das principais reivindicações é o custo-benefício da usina. Ela só funcionaria quatro ou seis meses no ano devido a vazão do rio. Não é muito pouco para o empreendimento dessa envergadura?
É importante esclarecer isso. Belo Monte vai funcionar como todas as outras usinas hidroelétricas. Normalmente, você tem muito bem dividido, ao longo do ano, dois regimes hidrológicos. Você tem regimes, digamos, de hidrologia bastante favorável e você tem o regime hidrológico bastante desfavorável, que são dois momentos: o período úmido e o período seco. Então você pega agora o final de dezembro até julho, o período chamado úmido, porque é quando ocorrem as chuvas. E essa chuva se intensifica até março, então isso faz com que os reservatórios fiquem cheios. Nesse período, faz a operação máxima da usina, ou seja, você opera a usina em sua capacidade máxima. De julho pra frente, até novembro, dezembro de novo, as chuvas cessam, então a capacidade da usina reduz. Bem, só que essa capacidade máxima e essa capacidade mínima, elas te dão uma energia chamada energia média. Então vamos pegar, por exemplo, Tucuruí, que gera 8.000 MW no período úmido e gera alguma coisa em torno de 2.000 MW no período seco. A energia assegurada de Tucuruí é 4.140 MW, que é uma média entre esses dois períodos. No caso de Belo Monte não será diferente, você vai ter 11.000 MW no período cheio e depois vai ter um valor bem baixo, em torno de 800, 1000 MW. Mas a energia assegurada em Belo Monte é a energia que pode ser comercializada. O sistema de energia elétrica brasileiro é todo interligado. Belo Monte será interligado a Tucuruí, que é interligada a Sobradinho, Paulo Afonso, Furnas e Itaipu. Então, quando chega nesse período úmido, em vez de eu gerar apenas energia assegurada, eu gero energia assegurada e mais a capacidade total da Usina. E tem um detalhe, os regimes hidroelétricos são um pouco diferentes, então quando chegar o período seco, eu vou gerar pouco, não consigo atender meus contratos, só que essa energia que eu mandei no período úmido, eu recebo agora para atender os meus contratos.

Outra crítica é a ameaça de secar a volta grande do Rio Xingu. Existe essa possibilidade?
Claro que não. Um dos principais objetivos desse projeto é que ele seja ecologicamente sustentável. Não se pode dizer que ele vai simplesmente secar a volta grande do Xingu, porque isso aqui não vai existir, de forma alguma. Inclusive, a gente vai perder energia em benefício do meio ambiente. A idéia é justamente essa, ter uma geração ecológica para manter o volume de água necessária para a navegação e para preservar a vida marinha. Isso quer dizer, que não vamos barrar completamente a água, vamos através dessa geração ecológica, colocar uma casa de força pequena para garantir esse volume de água necessário para manter a volta grande. Ela vai passar continuamente aproveitando essa passagem e gerando essa energia.

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