quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Exército quer gestão de empresa e mais poder

No último domingo (15), a coluna abriu espaço para a grade curricular das novas turmas, a partir de 2010, dos cursos de mestrado (dois anos) e doutorado (três anos) para oficiais-alunos da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército (ECEME), na Praia Vermelha (Rio). O foco mostrado foi para as análises das ideologias políticas prevalecentes nos países vizinhos e as situações de ataque e defesa do território nacional. E o poderio militar do Exército nessas relações e também o grau de mobilidade e eficiência no paralelo com o bloco econômico Bric - Brasil, Rússia, Índia e China.
Em função do interesse despertado nos leitores, principalmente na parte em que será ensinada gestão corporativa e indústria da defesa, a coluna retoma o tema detalhando alguns aspectos que tratam das relações da indústria com a infraestrutura bélica desejada pelo Exército. Fica claro, na grade curricular sobre Administração, elaborada pelo Centro de Estudos Estratégicos (CEE - da ECEME) e as Seções de Pesquisa (SPsq) e de Pós-Graduação(SPG), que o Exército quer assumir metodologias cada vez mais corporativas. E isto inclui (mesmo seguindo as regras da Administração Pública de Governo) a abordagem da Previdência Militar para os gargalos de hoje ("Previdência Militar: situação atual e perspectivas para o futuro").
O Exército também quer criar estruturas de "motivação e gestão do conhecimento", buscando a "gestão de competências nos diferentes níveis do Exército Brasileiro". E seguindo novas diretrizes das empresas privadas, a ECEME dá importância às áreas de Comunicação Social e Marketing Social, com destaque para a imagem" ("Gestão da imagem do Exército Brasileiro: contribuições do marketing empresarial"). Na sequência da relação direta da imagem externa da corporação, a unidade de ensino trata das questões da sustentabilidade ambiental ("Estudos de adequação das operações militares com as normas ambientais vigentes").

Autonomia orçamentária para gastos
Mas dois itens na formação dos futuros comandantes do Estado Maior do Exército marcam posturas reivindicatórias de gestão da armada. No Sub-item das finanças e contabilidade gerencial, o orçamento aparece com caráter de cultura reivindicatória em termos de maior atenção na distribuição das verbas e autonomia de caixa, ou seja, saindo do regime de caixa centralizado das verbas do Tesouro Nacional: "O orçamento do Exército: estratégia para maior participação no orçamento do Ministério da Defesa e da União" e "Fontes de receita vinculadas ao comandante do Exército: uma alternativa viável à gestão dos recursos financeiros pelo CMDO TO".
No tema da "logística" em Administração, a ECEME incluiu na preparação dos futuros comandantes do Exército "A gestão da logística empresarial aplicada à Mobilização".

Lideranças
Para a formação de lideranças dentro do ambiente militar, o Exército quer ter líderes plenos em três frentes e demonstra preocupação com uma questão de forma negativa ao mundo dos políticos: "A cultura organizacional do Exército Brasileiro e a liderança militar", "A liderança militar nos processos de gestão" e "liderança e a ética militar".

Tecnologia
O que muito aproxima os futuros mestres e doutores do Exército dos interesses da indústria privada é, sem dúvida, o aspecto da tecnologia, nas políticas, gestão e desenvolvimento. Naquilo que é apresentado na grade curricular como "Prospecção Tecnológica", a opção do ECEME faz uma amarração do conhecimento adquirido como sendo praticamente uma patente do Exército: "Emprego da Tecnologia da Informação na integração de grupos finalísticos de C&T e do desenvolvimento da doutrina".

No Mundo
A preocupação do Exército com C&T visa dar competitividade à unidade em relação às demais forças do resto do mundo - "Reestruturação da arma de Engenharia em face do emprego de modernos materiais de emprego militar atualmente em uso no mundo", "Soluções tecnológicas viáveis para o Brasil num cenário de perspectiva de guerra do futuro", "Emprego de Meios de Tecnologia da Informação (TI) no Exército Brasileiro" e "Implementação dos modernos sistemas de Tecnologia da Informação na cadeia de suprimento do Exército Brasileiro".
Geografia
Entra também naquele escopo o domínio de conhecimento da Geografia para as operações de guerra - "Emprego de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) nas atividades logísticas, de inteligência e operações militares".

OBSOLESCÊNCIA
Há também uma preocupação com a obsolescência dos equipamentos, conforme ilustra o tema "Ciclo de vida dos materiais de emprego militar - proposta de modificação das Instruções Gerais (IG 20-120) - modelo administrativo do ciclo de vida dos MEM".

TI E TELEMEDICINA
No domínio da TI, a ECEME quer dar aos futuros comandos caráter mais profissional, como na iniciativa privada. Uma das lições é a "Telemedicina e novas tecnologias nas operações militares". Outra aplicação TI é como ferramenta de fiscalização - "Integração entre as operações de inteligência e as atividades de fiscalização de produtos controlados pelo Exército Brasileiro".

MATERIAL BÉLICO
A ECEME, claro, não abre mão da TI para equipar suas unidades - "Desenvolvimento de Tecnologias de Emprego Dual e Portadora de Futuro". Dentro da chamada "Base Industrial de Defesa - BID", é clara a opção por uma "família de blindados brasileira em face às novas tecnologias e ao sistema logístico do Exército Brasileiro".

FISCALIZAÇÃO
Ainda dentro da BID, a preocupação com o controle sobre as armas futuras e a garantia de que não cairão em domínio de estranhos às funções do Exército. Este tem duas disciplinas: "A fiscalização de produtos controlados pelo Exército" e a "Mobilização industrial das fábricas de armas de fogo, munição, explosivos e de outros materiais de interesse militar".

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