segunda-feira, 19 de julho de 2010

futuro de Meirelles

Além da variação da taxa de juros, de certa maneira as reuniões do Copom, como a que acontece a partir desta terça-feira, definem também o futuro de Henrique Meirelles. Se quisesse voltar para a atividade privada, Meirelles teria lugar de destaque num banco ou numa empresa de grande porte. Só que não é isso que Meirelles quer para sua vida. Seu projeto particular é continuar na vida pública. No início do ano, patrocinado por Lula, tentou viabilizar-se como vice na chapa de Dilma Rousseff. O PMDB, porém, barrou a intenção. Mas isso é passado. Meirelles agora pensa em 2011.

Para chegar lá bem posicionado necessita que a travessia até as eleições seja feita sem sobressaltos — o que não é exatamente fácil, pois o cardápio do BC pode incluir a subida da taxa de juros. Meirelles nunca teve receio de ministrar esse remédio. Mas sabe que ao mandar para o espaço a demagogia, abre o flanco para os adversários que possui no governo. O mais notório deles é Guido Mantega, que o fustiga em público e mais ainda nos bastidores.

A segunda condição para Meirelles manter-se na vida pública a partir de 2011 é, obviamente, o triunfo de Dilma Rousseff — com José Serra no poder, a vida privada não será uma opção, mas único caminho que lhe restaria. Meirelles se imagina com chances de ser convidado para um posto de primeiro escalão num governo Dilma. Ou mesmo continuar onde está. Sabe, e é verdade, que sua indiscutível credibilidade internacional e junto à banca nacional é fator nada desprezível para uma candidata que, apesar dos esforços, ainda deixa essa turma de cabelo em pé. Neste sentido, Dilma também precisa de Meirelles.

Nestes quase oito anos como presidente do Banco Central, Meirelles mostrou talento político para se segurar no cargo. Foi uma espécie de estraga-prazeres da ala irresponsável dos governistas que querem juros baixos a qualquer custo — mesmo que se tenha que rasgar todos os livros-textos de economia. Mas venceu a briga. Mais: ganhou a parada mantendo intocada a autonomia do BC, o que é mais relevante.

E é isso mais do que nunca que estará na mesa das reuniões do Copom neste período eleitoral. Por volta das sete da noite da próxima quarta-feira, nove senhores engravatados estarão reunidos na sede do BC para definir a taxa de juros. O mercado financeiro está naturalmente atento ao Copom, mas desta vez há pouco espaço para surpresas: é consenso que a taxa Selic subirá 0,75 ponto percentual.

As dúvidas recaem mesmo sobre o modo como agirá o Copom no encontro seguinte, que se realizará no início de setembro. São pelo menos dois os motivos de interrogação. O primeiro é econômico: em setembro já se poderá avaliar melhor a consistência da desaceleração da economia brasileira e a tendência de queda de inflação, o que abriria espaço para interromper a escalada da taxa de juros verificada desde abril.

O segundo motivo para prestar atenção ao Copom de setembro é naturalmente político: com a campanha eleitoral pegando fogo, as pressões sobre o BC crescerão exponencialmente. E Meirelles estará novamente dentro do caldeirão, com o seu futuro em jogo

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