sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A NEUTRALIDADE NA AQUISIÇÃO DOS CAÇAS COMO PRINCÍPIO DE POTÊNCIA ECONÔMICA

A NEUTRALIDADE NA AQUISIÇÃO DOS CAÇAS COMO PRINCÍPIO DE POTÊNCIA ECONÔMICA
Fernando Arbache e Anderson Correia
Se relembrarmos da Guerra das Falklands/Malvinas, veremos que ao manter total dependência da França para suas aeronaves e mísseis, a Argentina perdeu sua capacidade de combate, tendo aí o fator crucial que a fez perder a guerra. As forças armadas argentinas eram compostas por equipamentos franceses, americanos e inclusive ingleses, caso do porta-aviões Veinticinco de Mayo que participou da guerra entre Inglaterra e Argentina.

Todos os países fornecedores das aeronaves eram membros da Otan, que tem por conceito básico se ajudarem mutuamente em caso de guerra. Ao atacar um território de um país membro desta organização, a Argentina passou a agredir, na prática, todas as nações que fazem parte da Otan, ficando extremamente vulnerável para adquirir armamento para sobreviver a uma guerra prolongada.

A conseqüência foi óbvia: a Argentina sucumbiu à marinha inglesa, perdendo não apenas a possessão da ilha, como também centenas de vidas de seus militares. Este evento agravou a situação econômica do país, aprofundando a recessão no qual já estava imerso. Na época, a Argentina detinha a capacidade unicamente de produzir o lento avião de treinamento Pucará, que nada valia diante dos ágeis Sea Harriers.

A concorrência FX-2 tem como participante dois países membros da Otan: Estados Unidos e França. Ambos oferecem produtos prontos, e não parceria no desenvolvimento de projeto, o que em muito beneficiaria o parque industrial brasileiro. Além disso, segundo informações obtidas em recente audiência pública no Congresso Nacional, nenhum desses concorrentes oferta a propriedade intelectual compartilhada. Nesse ponto apenas a sueca SAAB oferece ao Brasil essa preciosa oportunidade.

Se o Brasil, porventura, entrar em alguma disputa comercial ou militar com algum país membro da Otan, qual seria a conseqüência e que reflexos que poderia haver na produção e reposição de peças dessas aeronaves em nosso país? Além disso, a compra de armamento para integrar nestas aeronaves ficaria também prejudicada. O quanto esse evento nos fragilizaria? Quais seriam as imposições realizadas pelos países alinhados? Certamente poderíamos sucumbir como aconteceu com a Argentina diante do esgotamento de sua capacidade de combate.

Temos que lembrar continuamente que o País, ao se tornar candidato à potência econômica, passa a ser concorrente direto de inúmeras Nações do mundo, disputando a conquista de acordos comerciais em diversas partes do Planeta. Devemos lembrar que o Brasil teve difíceis disputas na OMC com os Estados Unidos, Canadá, entre outros, além disso, tem um notório conflito com a França no que diz respeito aos subsídios agrícolas, que impedem a entrada de produtos brasileiros na União Européia.

É o momento de o Brasil tornar efetiva sua soberania, mantendo-se a tradição de uma nação não alinhada, país neutro, mas capacitado a reagir a qualquer ameaça a seu território, ao seu povo e ao seu desenvolvimento e crescimento econômico.

Para finalizar, vamos relembrar um fato importante para o nosso país. Ao substituir o antigo porta-aviões Minas Gerais pelo São Paulo, a Marinha Brasileira criou mais um laço de dependência com a França, pois este aeródromo é de origem francesa, servindo a essa Marinha desde 1957 com o nome Foch. O mesmo foi substituído pelo moderníssimo porta-aviões nuclear Charles de Gaulle, nome do famoso presidente francês, dono de uma das frases mais agressivas contra o nosso país – "Le Brésil n’est pas um pays sérieux" (O Brasil não é um país sério) – mencionada no auge da crise política entre Brasil e França, nos anos 60. Além desta belonave, a Marinha dispõe de mísseis franceses e ingleses, fragatas de projetos inglês, submarinos de origem alemã e aeronaves construídas nos Estados Unidos.

Recentemente, o Brasil assinou contrato com a França para a compra de submarinos. Nossa nação atualmente é absolutamente dependente de países membros da Otan.

Com a assinatura do contrato para a compra dos submarinos, com a assinatura do contrato para a compra dos helicópteros, além de todo o arsenal já existente de origem francesa e ainda considerando que a aviação civil tem mais de 50% de aeronaves de origem francesa, em caso de uma eventual retaliação seria um colapso na defesa nacional e desastre de proporções incalculáveis na vida da população brasileira.

Sobre os autores

Fernando Arbache é doutor em Sistemas de Informação (COPPE/UFRJ) e Inteligência de Mercado (ITA), docente das cadeiras de Logística e Administração de Projetos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor do Alto Comando da Marinha de Guerra Brasileira, nas cadeiras de Logística e Sistemas de Informação. Também é pesquisador do ITA, em inteligência de mercado e simulação, e do CNPq, bem como desenvolvedor de sistemas de novas tecnologias em CRM, ERP e business intelligence. É ainda autor do livro Logística empresarial, da editora Petrobras, e Gestão de logística, distribuição e trade marketing, da Editora FGV.

Anderson Correia possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (1998), mestrado em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2000) e doutorado em Engenharia de Transportes. Foi superintendente de Infraestrutura Aeroportuária da ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil e chefe do departamento de transportes do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Foi também presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo. Prestou consultoria em logística e transportes para as empresas Anac, Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird), Calgary International Airport., Correios, Embraer, Gillette do Brasil, Infraero, Petrobras, Procter & Gamble, SGAL (Lisboa), Unilever Best Foods. Tem experiência na área de engenharia de transportes, com ênfase em planejamento de transportes, atuando principalmente nos temas aeroportos, logística e transporte aéreo.

Fernando Arbache e Anderson Correia
Se relembrarmos da Guerra das Falklands/Malvinas, veremos que ao manter total dependência da França para suas aeronaves e mísseis, a Argentina perdeu sua capacidade de combate, tendo aí o fator crucial que a fez perder a guerra. As forças armadas argentinas eram compostas por equipamentos franceses, americanos e inclusive ingleses, caso do porta-aviões Veinticinco de Mayo que participou da guerra entre Inglaterra e Argentina.

Nenhum comentário: