sábado, 20 de fevereiro de 2010

perto da meia-noite

Terminou perto da meia-noite uma reunião de emergência convocada por Lula para apagar um incêncio que o PT ateara no PMDB.



Convidado a participar do Congresso que o petismo realiza em Brasília desde quinta-feira (18), Michel Temer (PMDB-SP) não deu as caras.



Pior: Temer ameaçava faltar à cerimônia em que o PT vai aclamar, neste sábado (20), Dilma Rousseff como sua candidata à sucessão de Lula.



Ao farejar o cheiro de queimado, o presidente decidiu agir. Em privado, disse que a ausência do PMDB roubaria a cena da apoteose de Dilma.



O discurso da presidenciável petista dividiria espaço nas manchetes com as especulações em torno do estremecimento das relações PT-PMDB.



Considerava essencial ajeitar a foto, acomodando a imagem de Temer ao lado da de Dilma. Lula tocou o telefone para Temer. E nada.



Presidente do PMDB e favorito à vaga de vice de Dilma, Temer lidava com o azedume do seu grupo.



Embora tenha firmado com o PMDB, no ano passado, um pacto pré-nupcial, o PT empurra com a barriga o detalhamento do acerto.



Há arestas por aparar em Minas, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará. Há, de resto, inquietude em relação a críticas anônimas à acomodação de Temer na vice.



Para complicar, o Congresso do PT rejeitou nesta sexta (19), emenda que sugeria a inserção do PMDB nas diretrizes de um eventual governo Dilma.



Apresentada por José Genoíno (PT-SP), a emenda guindava o PMDB à condição de aliado prioritário do PT. A rejeição tonificou o mau humor do parceiro.



Temer e seu grupo foram tomados de assalto pela sensação de que o petismo fala coisas definitivas sobre a aliança sem definir as coisas.



A fumaça já ia alta quando Lula deu um segundo telefonema a Temer. Convidou-o para a reunião noturna, no Alvorada.



Antes de recepcionar o presidente do PMDB, Lula foi ao Congresso do PT. Prestigiou a posse de José Eduardo Dutra na presidência da legenda.



Embora não estivesse previsto no programa, Lula brindou os cerca de 1.350 petistas presentes com um discurso.



Falou sobre a importância das alianças políticas. Sem mencionar o PMDB, disse que o PT deve aliar-se inclusive com partidos que, no passado, não se afinavam com ele.



Temer foi à residência oficial do presidente acompanhado de Romero Jucá (PMDB-RR), líder de Lula no Senado.



O virtual vice de Dilma vinha de uma reunião, em sua casa, com expoentes do pedaço do PMDB que pende para o apoio a Dilma.



Combinara que a presença do partido no ato de lançamento da candidatura de Dilma teria de ser negociada, mediante o atendimento de condições.



A principal delas era o comprometimento de Lula com os acertos que o PT demora-se em fechar.



Temer encontrou um Lula surpreendentemente receptivo. Levou à mesa as pendências. Sabia que nada se resolveria ali, de bate-pronto.



Mas obteve o que desejava. Lula assegurou a Temer que zelará para que o PMDB seja contemplado em suas reivindicações.



O presidente disse que vai tentar produzir acordos que acomodem PMDB e PT num mesmo palanque nos Estados em que ainda vigora o dissenso.



Prevalecendo a discórdia, Lula disse que zelará pelo respeito à tática dos palanques duplos. Não pisará nenhum deles. Mas Dilma frequentará ambos, ele disse.



Lula prometeu mais: ao discursar no encerramento do Congresso do PT, neste sábado, fará menção explícita ao PMDB.



Dirá o que o PT evitou dizer em no seu documento de diretrizes: o PMDB é parceiro prioritário na cruzada presidencial de Dilma.



Lula foi além: afirmou que cuidaria para que também o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, realçasse o papel estratégico do PMDB na aliança.



Diante dos compromissos assumidos por Lula, Temer cedeu. Irá à cerimônia de sagração da candidatura de Dilma.

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