quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

No DF, PSDB negocia com Roriz

A implosão da candidatura reeleitoral de José Roberto Arruda deixou o presidenciável tucano José Serra sem palanque no Distrito Federal.



Para contornar o problema, o PSDB negocia em segredo o apoio de outro candidato ao governo do DF, Joaquim Roriz –ex-PMDB, hoje no PSC.



Ex-governador, Roriz é uma espécie de mentor político de Arruda, que foi seu secretário de Obras.



Eleito em 2006, com o apoio velado de Roriz, Arruda manteve no GDF auxiliares de seu criador. Entre eles Durval Barbosa.



O mesmo Durval que, no ano passado, fechou com o Ministério Público o acordo de delação premiada que o levou a denunciar Arruda e Cia..



Sob Roriz, Durval presidia a Codeplan (Cia de Desenvolvimento do Planalto). Sob Arruda, permaneceu no posto até virar secretário de Relações Institucionais.



Durval já recolhia propinas junto a fornecedores do GDF na era Roriz. Ajudou a fornir um caixa dois que bancou a reeleição do ex-chefe, em 2002.



Investigado por malfeitos em série –de fraudes em licitações a sobrepreço— Durval tornou-se réu em 37 processos judiciais.



Daí o interesse dele na delação premiada. Colabora com a Polícia Federal e com o Ministério Público de olho na redução de pena.



Na era Arruda, Durval manteve aberta a usina de arrecadção de verbas de má origem. Cercou-se, porém, de cuidados.



Passou a gravar os beneficiários da coleta. Produziu uma videoteca que inclui a fita em que o próprio Arruda aparece apalpando um maço de R$ 50 mil.



Assim, ao despencar, Durval arrastou para o abismo os personagens que se serviam dos seus maus préstimos.



Ao tricotar com Roriz, hoje o favorito na corrida pelo GDF, o PSDB como que remonta a armadilha que mergulhou Brasília na corrupção.



Em público, o tucanato gosta de se autoproclamar campeão da modernidade. Nos subterrâneos, não se vexa de negociar com o arcaísmo malfeitor.



O PSDB ligara-se a Arruda mesmo sabendo que a fraude do painel do Senado não o recomendava.



Essa primeira evidência de falha de caráter, aliás, fora encenada em 2001, ano em que Arruda era tucano. Mais: respondia pela liderança do governo FHC no Senado.



Diz o senso comum que “errando é que se aprende”. O PSDB parece desaprovar o brocardo. Adapta-o: “Errando é que se aprende... A errar.”



Deve-se a José Serra a mais precisa definição de José Serra. Ao discorrer, em 2002, sobre sua infância, vivida no bairro paulistano da Mooca, Serra disse:



Era “bonzinho em casa, briguento na rua e barulhento na escola”. No futebol, “não era bom para driblar, mas para desarmar”.



O auto-retrato está assentado nas páginas de "O Sonhador que Faz", uma biografia consentida, escrita pelo repórter Teodomiro Braga.



A troca de passes do tucanato com Roriz oferece uma boa oportunidade para que Serra comprove o que disse. Se é mesmo “bom para desarmar”, convém agir.



Do contrário, arrisca-se a pedir votos em Brasília ao lado do inaceitável.

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