terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Transformers
FHC tinha o Plano Real. O PT tem a popularidade de Lula. Resta saber se os petistas irão ceder aos desejos do PMDB como o PSDB fez para agradar o PFL em 94
TRANSFORMERS
Em sua convenção nesse fim de semana, os peemedebistas finalmente “saíram do armário”. Antes que você pense que vestiram-se de mulher para participar de um bloco carnavalesco, é bom lembrar que o tema aqui é política. Com todo o respeito aos comandantes peemedebistas, o que se viu na convenção foi um partido assumido: É regional mesmo e ponto final. E, dentro do grande condomínio chamado PMDB, cada um fará o que puder para manter o seu apartamento de luxo, digo, governo, nos mais diversos estados.
Vejamos, o Maranhão. Depois de um janeiro movimentado, marcado por ações políticas mais incisivas da ministra e pré-candidata Dilma Rousseff, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou a convenção para cercar o territória da filha, a govenadora do Maranhão, Roseana Sarney.
Para quem não se lembra, enquanto Lula cuidava da sua pressão arterial, a ministra recebeu o PDT para um almoço, no qual o presidente do partido, Carlos Lupi, selou o apoio à candidatura dela,
transformando o PDT no primeiro a fazer um gesto mais ostensivo de
aliança eleitoral.
Os pedetistas fizeram algumas exigências, entre elas, o apoio de
Dilma a Jackson Lago no Maranhão que, ao que tudo indica, será
candidato a governador contra Roseana.
Sarney, na época, nada disse. Ontem, na convenção, estava
combinado que, em prol tentativa de unidade em junho, ninguém
avançaria o sinal falando da aliança com o PT, numa demonstração de
respeito aos que são contra para, mais à frente tentar agregar estados
como o Rio Grande do Sul. Sarney quebrou o acordo e falou para os
bons entendedores que apoiará Dilma Rousseff.
A declaração de Sarney tem um objetivo claro: colocar-se no
mesmo patamar que o PDT para, mais à frente, avisar ao PT para não
“ficar de gracinha” contra Roseana, candidata à reeleição. E, para os
sarneyzistas, essa “gracinha” é Dilma desfilar no palanque de Lago.
Afinal, Roseana foi líder do governo. E seu pai hoje pode dizer que,
desde a convenção do PMDB em que não era para falar de convenção
presidencial, ele apoiou Dilma.
Até junho, data da convenção peemedebista que escolherá o
caminho à Presidência da República, essa cobrança de apoio e
exclusividade por parte do PMDB será voz corrente em diversos estados. Os políticos que analisam os movimentos do PMDB acreditam que ele está cada vez mais parecido com o PFL do início da década de 90 __ que fechou apoio ao então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
No início de 94, o então presidente do PFL, Jorge Bornhausen,
jogou o mapa das coligações sobre a mesa tucana e resmungou: “É assim que vocês querem que estejamos engajados na campanha presidencial?” Foi a senha para que o PSDB cedesse. Fernando Henrique se viu obrigado a desfilar na Bahia com Antonio Carlos Magalhães, desprezando o próprio PSDB e antigos aliados.
Talvez FHC não precisasse disso para ganhar a eleição. Mas o PFL
então era forte, um grande partido de caciques regionais, sobretudo no
Nordeste. O PSDB não quis correr o risco.
Agora, o PMDB faz a mesma cobrança em relação ao palanque de
Dilma. E assim como FHC tinha o Plano Real embalando a campanha, o PT tem hoje a popularidade de Lula. Resta saber se os petistas irão para o sacrifício em nome da aliança para preservar o PMDB engajado na campanha como fizeram muitos tucanos em 94 para agradar ao PFL.
Por enquanto, os petistas torcem pelo crescimento rápido dos
índices pré-eleitorais de Dilma. Acreditam que, assim, não precisarão
ceder muito. Afinal, aceitam o PMDB transformado num PFL, mas não querem que o aliado vire uma máquina poderosa e feroz agindo nos bastidores contra a ministra. Se isso vai ocorrer, só o tempo dirá.
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