quarta-feira, 24 de março de 2010

Erros em pesquisa..........

Meira foi questionado também pelo fato de o Vox Populi ter apontado, em 2006, vitória de Paulo Souto (então PFL) no primeiro turno, contra o petista Jaques Wagner, que acabou vencendo as eleições em segundo turno. “Às vezes você erra. Só que você nunca ouve um médico dizendo qual a margem de erro de uma operação de apendicite. O pessoal respondia que queria Paulo Souto, mas já estava pensando em mudar de ideia. Mas eu não estava perguntando para ele se ele queria mudar de ideia”, justifica
E então? Noto que essa não é a primeira versão. A anterior, que ficou no ar um bom tempo, trazia um título que generalizava o palpite do tal João Francisco Meira, do Vox Populi, e atribuía a TODOS os especialistas a chance de Dilma Rousseff vencer a disputa no primeiro turno. Quem lesse o texto, entenderia que não.

Digam-me: alguém ainda está “surpreso” com a ascensão de Dilma? Não é possível. Então não merece ser autoridade técnica num instituto de pesquisa. Não são eles próprios a fazer o elenco das circunstâncias favoráveis à petista, como o desempenho da economia e a popularidade de Lula? O que há, então, de surpreendente nos números? Com quem essa gente teve aula de lógica? Com o professor de matemática Delúbio Soares? Quer dizer que o não-surpreendente seria Serra ainda disparado na frente? Por quê?


Com “pesquisólogos” eu brigo; com pesquisas, não! É perda de tempo. E a razão é simples: esses “especialistas” estão sempre certos, como se nota. Se o resultado das urnas coincide com o seu diagnóstico, estamos diante da evidência de sua competência técnica; se não coincide, há sempre a “Saída Meira”. Vejam ali como ele justifica o erro brutal que a sua empresa cometeu na Bahia: “O pessoal respondia que queria Paulo Souto, mas já estava pensando em mudar de idéia. Mas eu não estava perguntando para ele se ele queria mudar de idéia”. Esse “pessoal” é fogo!!! Quando Meira acerta, Meira é um gênio; quando Meira erra, a culpa é do eleitor. Se esse especialista lesse cartas, mãos e bola de cristal, daria na mesma. Já para Ricardo Guedes, do Sensus (considerando que o resumo de seu pensamento feito pelo Estadão Online esteja correto), “Dilma tem produto para mostrar, a economia. O Serra não tem. Hoje a tendência é muito mais pró-Dilma”.

Nem vou discutir se a tendência é pró-Dilma porque isso seria ocioso. É evidente que as condições são mais favoráveis à petista — incluindo imprensa e… institutos de pesquisa!!! O fato é que a fala de Guedes é um misto de estupidez e campanha eleitoral pró-PT. Ora, Dilma como “dona da economia” já é uma escolha partidária, não? E Serra? Não sendo “o dono da economia”, então não tem mais nada a mostrar? Observem que, para Guedes, a eleição se dá, mesmo, entre… FHC e Lula, não entre Serra e Dilma.


Guedes e Meira acabam de fundar o moto contínuo-eleitoral: um governo bem-sucedido na economia fará sempre o seu sucessor. A oposição nunca terá “nada” a mostrar. E se eles errarem? Já sabemos que eles não erram. Só o eleitor erra.

Márcia Cavallari, do Ibope, e Mauro Paulino, do Datafolha, foram um pouco mais contidos, preferindo, segundo o relato ao menos, apontar os fatores que contam em favor de Dilma, sem, no entanto, se comportar como assessores de imprensa da candidatura da petista. Quanto a Marcus Figueiredo, dizer o quê? Ligue a tecla SAP, leitor: seguindo seus próprios critérios, ele me parece muito feio para dizer algo inteligente…

Encerro
Boa parte do que vai acima já integra a campanha eleitoral — a favor da candidata oficial, é claro. Se os critérios com quais Meira e Guedes analisam a realidade (E ISSO NADA TEM A VER COM O FAVORTIISMO DESTA CANDIDATURA OU DAQUELA) estivessem corretos, então a democracia já teria mudado de patamar. Ela teria descido muitos degraus.

Fossem as coisas como eles dizem, Serra deveria ter ficado em São Paulo mesmo, disputando a reeleição para o governo — vênia máxima, o Vox Populi e o Sensus bem que tentaram… Política não é matemática, adverte Márcia Cavallari, repetindo frase já escrita aqui tantas vezes (não estou dizendo que ela me copiou; não precisa disso; aponto a coincidência). Não é mesmo! Michele Bachelet tinha no Chile a popularidade de Lula e não fez o sucessor. Sim, as circunstâncias lá são diferentes das daqui. As circunstâncias, diga-se, sempre são particulares. Fossem as coisas como quer a dupla, esse novo patamar da democracia dispensaria eleições. Afinal, por que haver oposição se o governo é popular e “tem a economia”?

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