quarta-feira, 24 de março de 2010

Líder de Lula age para cancelar ida de Vaccari a CPI

Uma manobra executada por Romero Jucá (PMDB-RR), líder de Lula no Senado, fez subir no telhado o depoimento do petista João Vaccari Neto à CPI das ONGs.



Tesoureiro do PT, Vaccari fora convocado na semana passada para prestar esclarecimentos à CPI.



Deveria ter sido inquirito nesta terça (23) sobre as denúncias de desvios de verbas da cooperativa habitacional Bancoop para o caixa dois do PT.



Vaccari não foi ouvido porque, na véspera, protocolara um ofício solicitando o adiamento da arguição. Alegara que seu advogado está nos EUA.



A pretexto de remarcar a data da inquirição, Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da CPI, reuniu os membros da comissão.



Supreendido pela movimentação de Jucá, Heráclito viu-se compelido a encerrar a sessão da CPI cinco minutos depois de tê-la iniciado.



O líder do governo ameaçou mobilizar a tropa para aprovar requerimento cancelando a ata da sessão que aprovara a convocação de Vaccari.



Cancelamento de ata é coisa jamais vista na história do Senado. Heráclito saltou da cadeira: "No dia que você anular uma ata de comissão, você acaba com o processo legislativo”.



Àlvaro Dias, coautor do pedido de convocação de Vaccari, ironizou: “O único que tem o poder de desconvocar é o Dunga”.



Movendo-se em combinação com a líder de Lula no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), Jucá não se deu por achado.



Disse que o mais apropriado seria ouvir Vaccari noutra comissão, a de Fiscalização e Controle, presidida por Renato Casagrande (PSB). Algo que Ideli defendia desde a semana passada.



Cancelada a sessão da CPI das ONGs, a oposição foi chiar no plenário do Senado. Da tribuna, Álvaro Dias expôs a manobra de Jucá.



Em apartes, os líderes Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB) ameaçaram reagir à eventual desconvocação de Vaccari com o bloqueio das votações.



Nos subterrâneos, Jucá também desfiava uma advertência. Cuidou de avisar que, mantida a convocação de Vaccari na CPI, a oposição teria o troco.



A resposta, disse Jucá, viria na forma da convocação em série de expoentes oposicionistas mencionados em escândalos.



O senador pemedebê chegou mesmo a dizer que guarda consigo uma pasta apinhada de requerimentos já formulados pelo PT.



No meio da tarde, surgiu uma novidade: aprovou-se na Comissão de Fiscalização e Controle um requerimento de Álvaro Dias.



Prevê a audição, na terça-feira (30) da semana que vem, de Vaccari e outros personagens do caso Bancoop. Tudo como queria Jucá.



Na comissão, o tesoureiro do PT será ouvido como “convidado”. Na CPI, seria espremido como “convocado”.



Confirmando-se a sessão de terça, a oposição terá dificuldades para insistir na inquirição da CPI das ONGs, prevista para depois da Semana Santa.



Além de Vaccari, o “convite” aprovado nesta terça (23) alcança o promotor José Carlos Blat, responsável pelo inquérito da Banccop.



Pretende-se ouvir também, entre outros, Luiz Malheiro. Vem a ser irmão do petista Hélio Malheiro, morto num acidente de automóvel em 2004.



Hélio Malheiro antecedera Vaccari na presidência da Bancoop. Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, o irmão reforçou as suspeitas de desvios.



Resta agora saber: 1) As ameaças de retaliação expostas por Jucá vão arrefecer os arroubos inquisitoriais da oposição? 2) A convocação da CPI será mantida?

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