domingo, 31 de maio de 2009

2010 será decidido pela esperança


As pesquisas eleitorais servem basicamente para três coisas:
1. Orientar partidos e candidatos;
2. Orientar os grandes financiadores de campanha;
3. Desorientar o eleitorado.
Elas desnorteiam a bugrada porque pesquisa feita há mais de um ano da eleição vale tanto quanto nota de três reais.
Tome-se, por eloquente, o exemplo da São Paulo do ano passado. As primeiras sondagens atribuíam a Geraldo Alckmin a aparência de candidato imbatível.
Venceu, como se sabe, Gilberto Kassab. Um nome que, tomado pelas sondagens inaugurais, parecia fadado ao fiasco.
Pois bem, à medida que a folhinha se aproxima de 2010, governo e oposição intensificam a encomenda de pesquisas.
Os últimos dados que chegaram às mãos do petismo e do tucanato esboçam um cenário parecido com o que produziu o êxito de Kassab.
Considerando-se a máxima de que pesquisa não é senão um “retrato do momento”, pode-se afirmar que o favorito José Serra não está bem na foto.
Em contraposição, Dilma Rousseff, a candidata de Lula, vai assumindo no porta-retrato as feições de uma Kassab de saias.
Bem-posto em todas as sondagens, Serra é assediado pelo “efeito Kassab”. Parece, aos olhos de hoje, favorito a fazer do rival escolhido por Lula o futuro presidente.
A despeito da crise, o governo Lula amealha confortável índice de aprovação.
De acordo com dados recolhidos pelo Vox Populi, por encomenda do PT, a avaliação positiva do governo bate em 87%.
Inclui as menções “ótimo”, “bom” e “regular positivo”. Ainda que se considere imprópria a adição do regular na conta, o índice impressiona.
Na mesma pesquisa, uma Dilma fustigada pelo câncer sobe. E Serra cai. No embate direto entre ambos, o tucano amealha 48%. A petista, 25%.
Nada mal para uma ministra que jamais disputou eleições e que entrara na briga abaixo dos dois dígitos.
O PSDB serve-se de sondagens feitas pelo instituto Análise. Também registram o crescimento de Dilma –ao redor dos 17%— e a queda de Serra –nas cercanias dos 45%.
Não são levantamentos comparáveis entre si. Os universos pesquisados e as metodologias são diferentes.
A quantidade de entrevistas tampouco coincide. Mas as pesquisas convergem para uma mesma direção.
Vem daí a gritaria do DEM para que Serra leve a cara à vitrine imediatamente. O alarido ‘demo’ já contagia a cúpula do tucanato.
Dá-se de barato na oposição que, sem contraponto, Dilma está condenada ao crescimento.
João Santana, o marqueteiro do PT, avalia que a doença da candidata não prejudica. Melhor: pode ajudar.
Antes mesmo da doença, FHC, guru do PSDB, antevia a chegada da candidata de Lula à casa de 30% no alvorecer de 2010.
Refinando-se a análise, o drama dos rivais de Lula aumenta. A pesquisa manuseada pelo petismo informa que 67% dos brasileiros estão “satisfeitos” ou “muito satisfeitos” com os rumos que o Brasil tomou sob a gestão de Lula.
Para 60% dos entrevistados pelo Vox Populi, “o Brasil melhorou nos últimos anos”. Agarrado a esses percentuais, os governistas lançam no ar a fatídica pergunta: “Se melhorou, porque mudar?”
É uma pergunta que a trupe oposicionista ainda não logrou responder. O tucanato frequenta a cena como um aglomerado de cabeças a procura de idéias.
Volte-se à analogia entre Dilma e Kassab. O triunfo do prefeito ‘demo’ assentou-se sobre os pilares da continuidade.
Kassab pilotava uma administração bem avaliada. E teve o mandato renovado porque seus adversários não levaram ao palanque nada que se parecesse com uma mudança para melhor.
Retorne-se à cena pré-eleitoral de 2010. Além de não expor um projeto alternativo ao de Lula, a oposição adiciona raiva ao pudim. Ataca o presidente a esmo. E arrasta o governo para uma nova CPI, a da Petrobras.
A tática é perigosa. A menos que ocorra um terremoto, parece improvável que alguém leve a melhor na próxima sucessão presidencial apenas falando mal de um governo que conserva a popularidade nas nuvens
O jogo será definido pela esperança, não pelo ódio. Não é à toa que Serra demora-se em acomodar suas fichas sobre o pano verde.
Além de não ter se livrado, ainda, do pôquer das prévias, exigência de Aécio Neves, Serra talvez não saiba ao certo o que dizer.

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