terça-feira, 13 de abril de 2010

Lula afaga produtor no jornal e MST invade no campo

O MST deflagrou o seu tradicional “Abril Vermelho”. Invadiu pelo menos 17 propriedades rurais entre a madrugada de domingo e a manhã de segunda.



O movimento expôs na página que mantém na web a contabilidade provisória de suas incursões: 15 invasões em Pernambuco; duas em Alagoas.



Trata-se apenas do início de um rol de irrupções planejadas para durar até o final do mês. Tempo suficiente para se tornar um tema da sucessão.



Além de cruzar as cercas de propriedades privadas, o MST planejou: “marchas, atos, manifestações e acampamentos em áreas urbanas”.



Deu-se na cidade pernambucana de Glória do Goitá, a cerca de 40 km de Recife, um desses “atos” que devem se repetir em diversas localidades do país.



Integrantes do MST já assentados pelo Incra ocuparam por mais de três horas a prefeitura local. Não houve repressão policial.



Ironicamente, o MST ganha as manchetes num dia em que Lula saiu em defesa dos produtores rurais na coluna que veicula às terças em mais de cem jornais do país.



Na última versão de “O Presidente Responde”, disponível aqui, o pecuarista goiano Luiz Humberto de Oliveira Guimarães pergunta a Lula: “Por que, no Brasil, o produtor rural é marginalizado, ao contrário de outros países?”



E o presidente: “Luiz, o produtor rural não é marginalizado. Se existe preconceito por parte de alguns setores da sociedade, tem a ver com o desmatamento...”



“...Mas é uma visão equivocada, que precisa ser esclarecida. Nós, do governo, sabemos muito bem o quanto sua atividade é fundamental para a eliminação da fome, o aumento das exportações e para o desenvolvimento do nosso país”.



Lula (ou o assessor escalado para responder em seu nome) empilha providências que corroborariam o reconhecimento do governo à importância dos produtores.



1. “Multiplicamos por quatro o volume de crédito rural, que passou de R$ 24,7 bilhões na safra 2002/2003, para R$ 107,5 bilhões na de 2008/2009”.



2. “Fizemos também a renegociação das dívidas do setor agrícola”.



3. “Diversas obras do PAC, como ferrovias, rodovias, hidrovias vão facilitar e baratear o escoamento da produção”.



4. “Lançamos também o Mais Alimentos, linha de financiamento que está revolucionando a agricultura familiar”.



No texto, Lula avoca para si o êxito do empreendimento rural: “Com estas e outras iniciativas...”



“...O Brasil já é um dos maiores produtores de alimentos e um dos principais exportadores mundiais de soja, suco de laranja, café, carne, frango e milho”.



Alheio aos comentários do presidente, o MST se esforça para descaracterizar suas incursões como práticas afrontosas à lei.



Chama Invasão de “ocupação”. Alega que seus militantes ocupam “latifúndios improdutivos”.



Num dos textos levados à internet, o movimento anota: "Lutar não é crime!". Uma referência, diz o MST, “ao processo de criminalização dos movimentos sociais”.



Um processo que, no dizer do movimento, é “levado a cabo por parte dos poderes Legislativo e Judiciário, além da grande imprensa”.



O Abril Vermelho, chamado oficialmente de “Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária”, se repete há 14 anos.



Foi concebido para lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás (PA), ocorrido em 17 de abril de 1996 –uma ação da PM que resultou na morte de 19 “emeéssetês”.



Na jornada deste ano, o MST esgrime um lote de quatro velhas “exigências”:



1. O assentamento de 90 mil famílias acampadas em todo o país



2. A atualização dos índices de produtividade, que aumenta o número de fazendas passíveis de desapropriação. Uma “promessa descumprida por Lula”, diz o MST.



3. Aumento do volume de destinadas à desapropriação de terras.



4. Mais investimentos públicos nos assentamentos –“crédito para produção, habitação rural, educação e saúde”.



O processo de reforma agrário converteu-se numa gincana de enxugamento de gelo. Quanto mais famílias o governo assenta, mas sem-terra aparece.



Há na Câmara uma CPI do MST. Invadida por deputados governistas, não anda. Destinava-se iluminar o volume de verbas públicas que, repassadas a entidades ligadas ao movimento, financiam as invasões.



Para embaralhar o jogo, a bancada do PT reivindica a inclusão de entidades patronais do setor rural no rol de investigados. Entre elas a Confederação Nacional da Agricultura, presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO).



No ano passado, o presidente do STF, Gilmar Mendes, disparou um par de telefonemas para governadores aliados de Lula: Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco; e Ana Júlia (PT), do Pará.



A um, Gilmar pediu que agisse para conter as ações ilegais do MST. À outra, lembrou da necessidade de respeitar as decisões judiciais que ordenam a reintegração de posse de fazendas invadidas.



Simpático às pretensões presidenciais de Dilma Rousseff, o MST como que convida a candidata de Lula a se posicionar. Ela não o fará espontaneamente. Mas será fustigada pela oposição e questionada pelos repórteres.

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